segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O menino que virou homem

Péricles Pereira

Ele sempre acordava com o órgão genital desinibido por mais uma noite de sono. Este, não raro, vinha repleto de sonhos com muitas perversões. A retenção urinária, reflexo de quem permaneceu indiferente às necessidades fisiológicas durante a noite, o faz parecer um garanhão prestes a executar o seu ofício.
Vai ao banheiro e despacha o líquido contido em sua bexiga. O toque leve de suas mãos o provoca a realizar movimentos de vai-e-vem, buscando saciar as fantasias da noite mais atual. Eram devaneios com mulheres inexistentes e outras, as quais faziam parte do seu meio. O certo é que nenhuma estava imune ao registro dos seus olhos e ao desenrolar dos seus sonhos sexuais - ligeiros como a ejaculação precoce que tinha quando se encontrava frente a um corpo feminino.
Tão novo e já conhecia as diversas formas de se relacionar. Nunca usufruíra, porém, as delícias que um corpo de mulher pode oferecer. Os filmes de orgia haviam lhe ensinado tudo que precisava na arte de sentir aqueles gozos relâmpagos, mas a prática ainda enfrentava a barreira do tempo. Ele só tinha doze anos.
Aos dezessete, sua primeira relação sexual. Nada de noite romântica à luz de velas e doces melodias suavizando seus gemidos de prazer. Álcool, muito álcool, influenciando as reações humanas. Sexo inseguro, como a gula de quem não pensa nas conseqüências do amanhã. Na ressaca do dia seguinte, a satisfação da noite anterior mesclava-se com o temor da sua irresponsabilidade. Com o tempo, viu que a sorte o acompanhara em sua primeira vez.
Com vinte e um anos de idade, já havia passado por muitas aventuras insensatas. Conhecia todas as casas de prostituição da cidade. Elas, por muito tempo, foram seu maior refúgio em períodos de nenhuma namorada; e mesmo com alguma, não rejeitava um convite para se embriagar com os amigos.
A ressaca agora sempre vinha acompanhada de uma depressão. Pensava nas doenças sexualmente transmissíveis e em como havia exposto seu corpo a elas. Causava-lhe medo hospitais, exames de sangue e tudo que podia indicar qualquer vestígio de suas ações impensadas. Não queria ouvir sobre os males que infestam a humanidade. As campanhas de prevenção provocavam um medo incontrolável. Para ele, era melhor ser desinformado.
O garoto de outrora lamentava tê-lo tornado “homem”. Era muito perigoso. E como homem, desejava voltar à inocência dos seus doze anos, pois lá os devaneios apenas faziam parte de uma fase sem preocupações. Queria voltar a ser aquele moleque pervertido que vivia a realidade entre sonhos e fantasias.
O menino que virou homem descobrira que a verdade do prazer é efêmera, e que as conseqüências podem levar a um pesar permanente. Agora sabia que a realidade pode ser perversa. Viver de sonhos é mais seguro!

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