segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Encontro mais valioso que uma entrevista


Mário Bittencourt

A mídia eletrônica paulista e carioca informa que ele é de difícil acesso e não gosta de dar entrevistas. Essa foi a única informação que tive sobre Cláudio Assis (foto), diretor dos premiados “Amarelo Manga” e “Baixio das Bestas”, exibido na Mostra Cinema Conquista, no dia 21.
Assis estava no cronograma de pessoas a serem entrevistadas por O PLANALTO, e quem ficou encarregado de entrevistá-lo foi eu. No dia 21 fui um pouco mais cedo para o Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima para ver se conseguia mais algumas informações sobre aquele que seria o meu entrevistado. Não obtive alguma.
Então fiz a única coisa que me cabia: esperar ele chegar e tentar uma aproximação. Depois de cerca de uma hora chegam EryK Rocha, filho de Glauber, e Cláudio Assis, acompanhados de Sofia Mídian, jornalista formada pela Uesb que enveredou de vez pelo caminho da sétima arte. E está se dando bem.
Quando tentei me aproximar, Assis disse alguma coisa de pé de ouvido para Érik e saiu. Mas não demorou. Vi aquela figura magrela, de preto dos pés a cabeça e pensei: vou encostar.
- E aí Claudião, tudo bom?
Ele me olhou com uma cara de quem você e antes que ele o pensamento se transformasse em pergunta eu me apresentei e disse que gostaria de fazer uma entrevista.
- Eu e Eryk vamos, depois daqui, para um bar. Se você quiser ir e fazer a entrevista lá, pode.
- Combinado.
Entramos todos para ver os curtas “Augusto na Praia”, de Rafael Eiras, um filme de 10 minutos que mostra pouco de nada, e “Yansan”, de Eduardo Nogueira, um filme de ficção em que os nomes dos personagens (desenhos mangás) é dos deuses orixás da religiosidade afro. “Yansan” conta as aventuras amorosas da orixá Yansã com Ogum e Xangô.
“Baixio das Bestas” conta a realidade da zona da mata pernambucana onde está instalada, desde que o Brasil é Brasil, a monocultura da cana de açúcar. Mostra um arraial onde há mais adultos e velhos que pessoas jovens, todos sem perspectiva de algum tipo de ascensão social.
O filme mostra toda essa realidade por meio da estória de uma jovem de 13 anos explorada pelo pai-avô, que a exibe nua todas as noites em troca de dinheiro para caminhoneiros e outros homens do pequeno lugar; e também da vida que levam os “agroboys” – playbois da zona rural –, os quais levam um tipo de vida semelhante às criaturas insanas de alta renda que há nas médias e grandes cidades (incluindo Vitória da Conquista).
Mais que o filme, me empolgava a entrevista que iria fazer. Afinal, não era qualquer diretor que estava ali. Cláudio Assis ganhou 22 prêmios em sua curta carreira de diretor de cinema. Onze deles com o longa metragem “Amarelo Manga”.
Quando “Baixio das Bestas” terminou fiquei na expectativa de um comentário. Mas o diretor do filme tinha saído e ninguém sabia onde ele estava. Depois de uns dez minutos ele aparece – estava vendo o jogo entre Brasil x Uruguai. Algumas pessoas voltaram para conversar com Assis, que deu explicações sobre o filme e saiu um pouco chateado com a opinião de um anônimo estudante sobre seu filme.
- Para alguém dizer que meu filme transmite o pensamento da elite só pode não ter entendido nada – disse, enquanto caminhávamos para o bar. Eu e Euclides, o famoso “Pindaí”, concordamos.
Na chegada ao bar, Assis quis saber da sua água de coco e do seu wisk, que haviam sido retirados da mesa onde estava mais cedo. Depois de um tempo, os líquidos foram devolvidos. Lá no bar estavam já, desde cedo, Sofia e Eryk. Depois chegaram Gil Brito (chargista de O PLANALTO), Ésmon Primo e o professor Zé Duarte.
Papo vai, papo vem, eu pergunto para Assis se ele não pensou em um determinado momento mostrar os exploradores – donos de fazendas de cana de açúcar e usineiros – no filme. Tranqüilo, ele diz que não.
As conversas fluem, entre um gole e outro. Cerveja, wisk e caipirinha era o que molhava a goela de quem estava na mesa. Cada um com seu cada qual. Aos poucos vou desfazendo a imagem que a mídia paulista e carioca me transmitiu de Assis, uma pessoa totalmente aberta a conversas com qualquer pessoa, desde que sejam interessantes os assuntos.
Assim foi durante toda a noite. Já não confiava nos rótulos que as mídias paulista e carioca costuma colocar nos artistas de outros locais. Rótulos esses que fazem da imagem dessas pessoas verdadeiros enigmas a serem decifrados. A entrevista com Assis? Ficou para outro dia...




Vestibular 2008 da Uesb não terá cotas


Thaiane Firmino

Na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), em 29 de agosto foi criada pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe), uma comissão para avaliar qual programa de ações afirmativas poderia ser implantado na Universidade. A proposta da Instituição foi que seriam destinadas 50% das vagas, por curso e turno, para o sistema de cotas. Essa porcentagem se subdividiria, em 45% das vagas para afro-descendentes; 45% para estudantes de escolas públicas; 5% para portadores de necessidades especiais; e 5% para indígenas e quilombolas. Para explanação da proposta e construção de um debate sobre o tema foram marcados seminários, sendo o primeiro deles realizado no dia 29 de outubro, no Teatro Glauber Rocha da UESB com a participação do Reitor Abel Rebouças; conselheiros do Consepe e estudantes de escolas públicas de Vitória da Conquista.
O debate foi uma oportunidade para que a sociedade e a comunidade universitária discutissem e analisassem a implantação do sistema na UESB. A União Municipal dos Estudantes de Vitória da Conquista (Umesc) de acordo com seu representante, Leonardo Viana, tem como proposta, que também foi debatida em audiência pública na Câmara de vereadores da cidade, no dia 27 de outubro, garantir 50% das vagas da Uesb para estudantes oriundos de escolas públicas e também para os afro-descendentes, pois para ele, o importante é conseguir a porcentagem na reservas de vagas na Universidade.
Em contrapartida, o Movimento Negro defende que a reserva de 50% por curso e turno seja apenas para os afro-descendentes, na mesma proporção da porcentagem que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diz ser de negros e pardos em Vitória da Conquista em relação a população total. Porém a porcentagem do IBGE é desconhecida, existem apenas dados nacionais.
Em entrevista, o Pró–Reitor de Extensão Paulo Sérgio Cavalcante, afirmou que é de responsabilidade da Pró-reitoria de Extensão (Proex) as políticas afirmativas e a manutenção dos alunos e que por isso o projeto de discussões sobre as cotas foi transferido para a Pró-reitoria de Graduação (Prograd), setor responsável pela implantação do sistema, através do Consepe. Segundo o professor, a Proex tinha enviado uma proposta ao conselho para discussão das cotas, porém o Consepe ainda não havia amadurecido as idéias, e houve ainda várias sugestões para que fossem suspensas as inscrições de matrícula diante do conselho para que o assunto não ficasse restrito as cotas, a partir de então com a implantação de seminários internos e externos, que retornarão nos dias 27, 28 e 29 próximos, serão levadas as propostas para o conselho e ele decidirá como e que tipo de cotas a UESB implantará.
Para o professor não faltou apenas vontade dos professores, mas amadurecimento da própria Universidade, e destacou que “A administração colocou agora as cotas como ponto de pauta, mas isso poderia ser feito inclusive pelos Centros Acadêmicos (CA) e pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), no sentido de provocar o conselho para essa discussão”. Quando questionado sobre a pressão do movimento Negro, o pró-reitor disse que acredita que as cotas não serão exclusivas para uma categoria e que não devem entrar no processo seletivo de 2008.

Vale transporte com os dias contatos


Thaiane Firmino

Assim como nas cidades de grande e médio porte, o Sistema de Bilhetagem Eletrônica está em fase final de implantação na cidade de Vitória da Conquista e as empresas devem fazer o cadastramento de seus funcionários até o próximo dia 29. Segundo a Secretaria Municipal de Transporte, Trânsito e Infra-estrutura Urbana (Simtrans) os transportes coletivos das duas empresas que transitam na cidade estão com validadores e catracas eletrônicas instaladas e todo o sistema operacional está implantado para entrar em vigor no dia 1º de dezembro.
O investimento para implantação do sistema é de cerca de R$ 1.200.000 e está sendo custeado pelas empresas, sendo o financiamento diluído na taxa de retorno das mesmas ao longo da concessão. Segundo a Secretária de Transporte, Trânsito e Infra-estrutura Urbana, Márcia Pinheiro, a mudança trará modificações positivas para o usuário desse tipo de transporte, pois haverá melhorias significativas de compra e utilização dos bilhetes, bem como a efetuação da recarga dentro do próprio veículo, tudo feito de forma automática, evitando, assim, fraudes e comércio irregular de vale transporte.
Para ela, a evasão do sistema da receita será reduzida, já que a capacidade de gerenciamento será melhorada devido à possibilidade de informações mais precisas; também haverá redução do fluxo de dinheiro circulando no veículo, o que diminui a quantidade de assaltos, aumentando a segurança no transporte coletivo; e a evasão da receita será reduzida, o que possibilita melhor controle tarifário; haverá ainda agilidade no embarque e desembarque, e por conseqüência diminuição do tempo de espera nos pontos de ônibus.
Para os vendedores de vale transporte do Terminal no centro da cidade, que conseguem lucrar em média R$ 400 por mês, o novo Sistema não é visto de maneira positiva. Dona Ana Campos Vieira, 39, casada, moradora do bairro Petrópolis e uma das vendedoras de vale transporte no local, afirmou que perde o sono todas as noites ao lembrar que quando os vales acabarem não poderá vender mais. Para ela, “o que a Prefeitura quer é tirar a gente da rua de qualquer jeito, devia se preocupar era com a violência, porque esse desemprego vai aumentar a violência”.
São em média 40 vendedores de vale transporte só no centro da cidade. Outro vendedor, sr. Severino José de Souza, 64, casado, morador do bairro Cadija, sugeriu que a Prefeitura deveria ter procurado uma maneira de dar emprego para esses vendedores antes de implantar o Sistema de Bilhetagem, porque muitos dos que irão deixar de vender vales vão procurar problemas com fiscais ou irão para a criminalidade, e afirmou: “Vou procurar alguma coisa para fazer. Se eles não arruma trabalho, agente inventa o trabalho, porque no Brasil só pode aposentar com 65 anos e se tem menos de 20 é novo demais e não tem experiência, se tem mais de 40, tá velho. Então só vive dos 20 aos 39 anos.”
Paulo Ricardo Gusmão de Oliveira, 18, que já trabalha com a venda de passes há um ano e três meses, afirmou que “só Deus no controle” e disse que a Prefeitura deveria tomar a mesma atitude que tomou quanto aos meninos que lavavam carros nas ruas, onde com a criação da Associação Zona Azul, para maiores de 18 anos, e do Conquista Cura, para os garotos menores, diminuiu muito o índice de pivetes. Para ele, faltou acordo entre as empresas de transporte juntamente com o governo local para viabilizar uma saída para a classe.

O melhor do cinema em oito dias


Taísa Moura

Um olhar para o cinema novo. Esta foi a temática escolhida para a Mostra Cinema Conquista, realizado de 17 a 24 e novembro. Em sua terceira edição, o evento marcou presença em vários pontos da cidade, satisfazendo a curiosos, estudiosos, pesquisadores e, principalmente, aos cinéfilos.
Em oito dias foram exibidos 22 longas, 42 curtas e 20 documentários regionais. A educação e a formação de pessoas para o cinema e para o audiovisual ficou por conta da programação acadêmica com a realização de palestras, lançamentos de livros e mesas-redondas, onde foram discutidos assuntos como “o cinema e o seu diálogo com a educação”, “o caminho de convergência entre o cinema e a TV Digital”, “o cineclubismo no Brasil”, e “políticas públicas para o audiovisual no Brasil”.
Para o coordenador geral do evento, Ésmon Primo, o diferencial da terceira edição da mostra foi que ela teve 3 pernas: “a cultural (na exibição dos filmes), a acadêmica (seminários) e a itinerante (onde pessoas dos bairros tiveram acesso ao cinema de qualidade e gratuito em praça pública ( projeto Cine-cidadão e a Cine-tenda Brasil).
Gildásio Leite (foto), o ator e diretor conquistense homenageado nesta terceira edição da mostra revela: “me honra muito, que aqui na minha terra eu tenha recebido esta homenagem, mesmo produzindo pouco. Não me sinto envaidecido, mas me deixa muito gratificado”.
Outra singularidade desta mostra foi a exibição de apenas filmes brasileiros. Para a coordenadora do projeto Janela Indiscreta, Milene Gusmão, a não exibição de filmes estrangeiros não teria sido possível pelo fato desta edição não ter salas próprias de cinema (como foi no Madrigal no ano passado).
Ministrante da oficina de Roteiro e diretor do filme Cartola – Música para os olhos, o roteirista Hilton Lacerda conceitua: “é uma oportunidade única participar da mostra, já que temos o problema de distribuição do filme; mostrar o filme, conversar com público, mostrar sua opinião sobre o cinema brasileiro é muito emocionante. Ainda mais em Vitória da Conquista que é extremamente rica em exportar talentos, como Glauber Rocha, Gilberto Gil”.
“É muito forte pra mim ta voltando a conquista, a terra do meu pai, com o filme que eu produzi, Diário de Sintra. A mostra é uma iniciativa importantíssima, e se apresenta como uma alternativa; uma possibilidade de mostrar filmes que não chegam aqui. É uma ocasião boa para oxigenar a cultura local”, afirmou o cineasta e filho de Glauber Rocha, Eryk Rocha.

Arquibancada da Fonte cede e deixa sete tricolores mortos



Do A TARDE On line

O que era para ser festa se transformou em tragédia. O piso do anel superior, onde fica a torcida Bamor, cedeu, em meio às comemorações da torcida pela volta a Série B do Campeonato Brasileiro. Onze pessoas despencaram de uma altura de 20 metros, seis morreram na hora e outra faleceu a caminho do HGE, onde deram entrada outros 13 feridos, seis em estado grave. Os demais foram transferidos para os hospitais Ernesto Simões e Santo Antônio.Foram confirmadas as mortes de Jadson Celestino, Djalma Lima, Anísio Marques Neto, Midiam Andrade Santos, Márcia Santos Cruz, Milena Vasques Palmeira e sua irmã, Patrícia Vasques Palmeira.O acidente ocorreu poucos minutos antes de encerrada a partida em que o Bahia empatou com o Vila Nova por 0 a 0, resultado que garantiu matematicamente o acesso à Série B. Mais de 60 mil torcedores lotaram o estádio. O Departamento de Polícia Técnica já iniciou a remoção das vítimas para o Instituto Médico Legal. Os sobreviventes foram encaminhados ao Hospital Geral do Estado por equipes do Samu e da Vitalmed. Segundo um policial militar, algumas vítimas portavam mais de um documento de identidade, o que dificulta o trabalho de identificação.
A todo momento muitas pessoas procuravam os PM’s em busca de informações sobre o acidente. Um homem desmaiou ao reconhecer uma suposta vítima. A equipe do A TARDE On Line tentou ainda falar com ele mas não teve sucesso. Outra garota, em estado de choque, disse que não estava conseguindo encontrar o tio. Segundo a jovem, o homem identificado por ela como Paraíba desapareceu na hora do desabamento.
A comoção entre os tricolores interrompeu as comemorações da torcida do lado de fora da Fonte Nova. Uma hora depois da tragédia, os músicos cessaram o som dos trios elétricos de Ricardo Chaves, Capitão Axé e Olodum, que entoavam músicas de axé à beira do Dique do Tororó.