quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Nas fornalhas das carvoarias

Jeremias Macário

Como no tráfico de drogas onde impera a lei do silêncio, o mesmo acontece com a indústria do carvão, vendido para as siderúrgicas de Minas Gerais. Mais de cem caminhões carregados de carvão cortam o sertão do sudoeste todos os dias, passando pelos municípios de Riacho de Santana, Igaporã, Guanambi, Caetité, Brumado, Pindai e Urandi. É de doer o que estão fazendo com as árvores nativas da nossa caatinga, sem que as autoridades tomem as devidas providências. A maioria do transporte é feita com autorizações falsificadas. Não existe controle para impedir tamanha agressão à natureza, e o Ibama faz vistas grosas, na maioria dos casos porque não tem recursos humanos e equipamentos para cobrir toda região.
Nos finais de semana os caminhões de carvão param nos postos de combustíveis das cidades, principalmente Guanambi, na saída para Pindai. Os motoristas ficam esperando pelas autorizações esquentadas de transporte florestal que chegam de Riacho de Santana e até de Barreiras. Existe um “escritório” em Riacho de Santana que comanda toda operação fraudulenta. Com aperto na fiscalização, esteve fora do mercado por um determinado tempo, mas retornou à atividade logo que as coisas se acalmaram. O assunto tem sido debatido em encontros de jornalistas e entre órgãos do governo estadual, mas a situação só fez piorar nos últimos anos. A verdade é que as carvoarias transformam o sertão em fornalhas e nelas trabalham crianças e adultos num regime de escravidão. Por trás desse lucrativo negócio, existe uma máfia perigosa disposta até a matar.
A imprensa local não denuncia o desmatamento para a queima em carvoarias porque não tem proteção e teme ameaças, inclusive de morte. Na capital, o assunto aparece pouco nos jornais, mas logo cai no esquecimento. Com medo, as pessoas na região não querem falar e a destruição continua. O processo das carvoarias se acelera nas épocas de seca como a que está ocorrendo agora no sudoeste. Na falta de um rigor maior por parte dos órgãos ambientais, poucos cumprem a lei do reflorestamento das áreas destruídas.
Além do carvão extraído de árvores como aroeiras, casca-fina, umburanas e outras, as cerâmicas também fazem sua parte na degradação do meio ambiente com a queima de lenha em seus fornos. Os caminhões de carvão e de lenha se cruzam nas estradas, numa desenfreada desertificação da natureza. Só em Caculé, Ibiassucê, e Caetité são mais de 200 unidades que utilizam a lenha para fabricar seus produtos. Num debate em Caetité, um senhor se levantou para denunciar o fato e quase que apanha dos ceramistas. Sem trabalho e com a seca que acabou com as lavouras, tem gente arrancando raízes das árvores para transformá-las em carvão.

Jeremias Macário é jornalista, escritor e membro da diretoria da Associação Bahiana de Imprensa-ABI

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